A grandiosidade da pequena Altamira

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Escrevo e ainda sinto os ares de lá, ou os aromas. Deve ser o tereré (bebida típica de alguns lugares do sul do Brasil) ao lado do texto que me traz um pouco do sabor de Altamira, região central de Minas Gerais. O limão galego colhido nos pés ao redor desse distrito de quase 100 habitantes foi companheiro dessa bebida que, por sua vez, fez parte de mais essa viagem. Podia começar contando sobre uma das cachoeiras mais bonitas que já visitei, mas prefiro falar dos detalhes que me carregam para o lar da Dona Vilma e do Seo Sebastião, ou como prefere ser chamado, Tãozinho. O nome da pousada Mutuca, que já denominou esse vilarejo próximo a Nova União, não agradou alguns dos poucos moradores da então Altamira, mas o Seo Tãozinho não deu tanta trela. Segue com seu lugarzinho que hospeda os aventureiros que vão em busca de cachoeiras como a Braúnas. Falo dela depois.

Cine Bicudo
cine bicudo

Do quarto, uma janela que dava para a igreja e que dava para as estrelas. Ao lado da igreja, um cemitério singelo de onde podia-se ver o pôr do sol. Ainda tinha um cinema, que inesperado! O Cine Bicudo que, segundo li, fica “num vale, entre montanhas, com sessões de filmes brasileiros...” Infelizmente não teve sessão na sexta-feira e nem a idealizadora foi encontrada para contar um pouco mais sobre essa ideia de trazer a arte para os moradores dali. Sei que já haviam passado Mazzaropi e sei também que as missas lá na igreja acontecem uma vez por mês. Quem tem a chave da capela? Dona Vilma... Ela me contou de seu casamento com Tãozinho que, num primeiro momento, achei que tivesse se passado na igreja de Altamira e há muitos anos. Foi há pouco mais de um mês em Nova União. Se o nome já diz, as uniões só podem ser realizadas lá e não do outro lado da rua.

Thaís Mendonça e D. Vilma Maria da Silva
thais mendonca e d vilma maria da silva

Ela contou um pouco quando servia o jantar. Doze reais por pessoa. E para passar a noite, trinta reais ou cinquenta se for casal. Isso com café da manhã. O padeiro não veio no dia seguinte e a gente não soube o que aconteceu, mas tinha um biscoito frito e um queijo Minas que chegou na hora de dar entrada na pousada. Compramos um para levar, mas não resistimos e comemos uns pedacinhos tirados a canivete, no meio da prosa da vizinhança, sentados na mureta do alpendre. Chegou um cafezinho mais doce que a receptividade daqueles moradores.

E como é bom chegar a um lugar assim. Um silêncio que talvez não seja o estilo de vida que levaria por muito tempo, com essa gana por descobertas, mas a simplicidade deixa um sabor gostoso de tempos de infância, de alpendre, de café. Ter tudo ali nas proximidades, o tudo simples, sorveteria, armazém, uma sinuca na esquina. Agora a tal da cachoeira, não, essa não estava virando o quarteirão. Preparem-se para vinte e um quilômetros de trilha ida e volta.

Cachoeira Braúnas
cachoeira braunas

Braúnas, vamos ao motivo de descobrir essa pousada acolhedora. Primeiro a caminhada árdua, porém recompensadora pela paisagem de platô de alto de serra entre vales floridos. Dos 21 km de ida e volta na Serra do Cipó, cerca de 20% são entre subidas e descidas. Primeira dica: vale baixar as direções da trilha em aplicativos que forneçam o mapa off-line. No longo percurso existem algumas trilhas adjacentes que confundem um pouco. Com mais ou menos três horas e meia para chegar e o mesmo tempo para regressar encontram-se alguns riachos, o que torna as pausas pela trilha ainda mais prazerosas. Ao final, a vista da cachoeira de longe é de agradecer a esses lugares pequenos que tem no entorno formas tão exuberantes de natureza.

A força de Braúnas é indescritível. Primeiro que para chegar até o poço a ladeira é longa e um tanto escorregadia por causa do cascalho. Depois, tentar ir de encontro à queda foi uma luta contra o vento que não me permitia enxergar. Nadei de costas e pude enfim me abrigar e sentir um pouco a intensidade daquelas águas. Se você a olha de longe, não consegue medir o poder daquele vento nem a grandiosidade daquele pedacinho de vida no meio de outro pedacinho de terra

Acho que grandiosidade é isso; depende de como se olha. Achei Altamira e seus anfitriões de uma generosidade que fizeram do simples e pequeno algo que preencheu uma viagem sem expectativas pela Serra do Cipó. A graça veio do inesperado, das histórias e do cuidado. As grandes belezas estavam enfim nos detalhes da pequena Altamira.

Cachoeira Braúnas
vista cachoeira braunas

Informações sobre a Pousada

Telefones (31) 98318-5842 / (31) 98232-6850.

Informações sobre o Cinema

Facebook: https://www.facebook.com/cinebicudo/

 

Fotos: Rodolfo Lage e Thaís Mendonça

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Altamira, Minas Gerais
Altamira, Minas Gerais

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  • Thaís dos Reis Mendonça

    Thaís dos Reis Mendonça

    Oi Athos, tudo bem? Obrigada pelo comentário. Eu estou fora do Brasil e não voltei a Altamira ainda, mas ouvi dizer que o Parque Nacional estava fechado, acredito que por conta do Corona. Talvez seja bom verificar antes de ir. Sobre guia, não conheço. Vou deixar abaixo um mapa que o Rodolfo (que estava comigo na trilha) fez. Um abraço e boas trilhas!
    https://www.wikiloc.com/hiking-trails/cachoeira-de-braunas-pn-serra-do-cipo-22174592

  • Athos Etienne Pereira de Vasconcellos

    Athos Etienne Pereira de Vasconcellos

    Valeu, Thais. Estou planejando conhecer a Braúnas e, agora, também a pequena Altamira e sua grandiosidade. Vou entrar em contato com Dona Vilma e Seo Taoziho. Você sabe se eu conseguiria um guia em Altamira para ir até a cachoeira?

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Thaís dos Reis Mendonça
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