Expedição Cerro Plata - ARG - Jan/19
Relato Expedição Cerro Plata - 2019
Relato publicado por Andrey Moré (membro da Assoc. Caxiense de Montanhismo - RS)
A Expedição Cerro Plata 2019 ocorreu em Janeiro de 2019, da qual participaram Andrey Moré, Igor Machado da Silveira e Talivan Tavares, sendo os dois primeiros moradores e naturais de Flores da Cunha – RS e o último, morador de Caxias do Sul e natural de Lagoa Bonita do Sul - RS.
No dia 02 de Janeiro de 2019, eu e Igor partimos de Flores da Cunha com destino a cidade de Lagoa Bonita do Sul, onde encontramos o Talivan, fizemos o devidos ajustes, troca de carro e partimos via terrestre rumo ao nosso destino.
Os dias 02, 03 e 04 de Janeiro foram destinados ao nosso deslocamento em território brasileiro e argentino, onde optamos por pernoitar em hostels, até chegarmos ao Refúgio San Bernardo, 2.800 metros de altitude, local escolhido devido a boa infraestrutura e alimentação oferecida, o mesmo dia 04 foi utilizado para organizarmos os equipamentos e descansarmos da viagem prolongada.
O dia 05 de Janeiro, foi o primeiro dia de trekking de altitude, partimos do refúgio em direção ao Cerro Lomas Brancas (3.600 metros de altitude), trekking com o objetivo de iniciarmos nossa aclimatação às altitudes maiores. Neste dia, já pode-se sentir a limitação quanto a respiração, cansaço excessivo do corpo, porém, os três integrantes da expedição atingiram o cume com sucesso, apesar da subida íngreme para chegar ao mesmo. Almoçamos, e retornamos ao refúgio.
No dia 06, era previsto um trekking de aclimatação até o Acampamento Piedra Grande (3.600m de altitude), fizemos o mesmo, porém já porteando parte do equipamento que necessitaríamos nos dias posteriores e que poderiam ser deixados nesse acampamento dentro de uma barraca, também neste dia, ao chegarmos no acampamento o clima nos presenteou com neve que caiu por alguns minutos. Finalizando o dia, retornamos ao refúgio, onde nos alimentamos e descansamos. Vale ressaltar, que no refúgio, o montanhista tem a opção de cozinhar a própria refeição ou optar por refeições pagas que os donos do refúgio oferecem.
Neste dia da expedição, o dia 07, tornou-se especial, pois não retornaríamos mais para o refúgio, partimos do refúgio em direção ao Acampamento Piedra Grande e lá ficaríamos para pernoitar. No acampamento Piedra Grande, tem-se acesso a água proveniente das geleiras, a mesma fica uns 200 metros distante do acampamento. Nossas refeições neste dia e nos dias que viriam montanha acima, se resumiu a utilizar água fervida e tratada, e comida liofilizada na marcar Lionutri. Na noite deste dia, sofremos muito com o vento, acordávamos constantemente com uma terra fina sobre nossos sacos de dormir. Neste acampamento começamos a sentir novamente os sintomas da altitude, cada movimento do corpo deve ser cuidadoso afim de evitar tonturas, e a cada sequência de passos na caminhada, teve-se o cuidado e necessidade de parar e respirar.
Seguindo nosso cronograma previsto, no dia 08, partimos em direção ao Acampamento Salto, (4.200 metros de altitude), trekking de aclimatação e aproveitando novamente para portear equipamentos que ficariam nesse acampamento superior. O percurso do Acamp. Piedra Grande até o Salto é muito exigente fisicamente, subidas íngremes dentre as quais destaca-se a subida chamada Infernillo, como o próprio nome já diz, um inferno para ser vencida. Trekking e aclimatação realizados novamente com sucesso neste dia, após ficar algum tempo no Acamp. Salto descemos para pernoite no Piedra Grande.
O dia 09 começou com questionamentos e reflexões do grupo, acordamos e sabíamos que teríamos que subir até o Acampamento Salto, o que não era fácil, o que nos desmotivou logo de manhã cedo, porém, juntamos o equipamento e seguimos adiante. Chegamos ao Salto bastante desgastados, utilizamos o restante do dia para descansar. Destacando um fator importante, que diariamente avisamos nossos familiares brasileiros que estávamos bem, através do aparelho Spot Gen3.
No dia 10, segundo nosso cronograma seria utilizado para descansar ou fazer o trekking até o Acampamento La Hoyada, porém, de acordo com as limitações e sintomas que cada integrante estava apresentando, aproveitamos o dia da seguinte maneira: eu, Andrey Moré, realizei o trekking de uma hora em direção a La Hoyada (4.600m de altitude), porém preferi guardar energia para o dia seguinte que seria o dia de ataque ao cume, o Igor aproveitou o dia para descansar, o Talivan, o qual estava apresentando vários sintomas do mal de altitude, não se sentindo em condições de continuar na expedição, optou por retornar ao refúgio San Bernardo. Com o retorno do Talivan ao refúgio, eu e Igor optamos por continuar no Salto, dando sequência à programação da expedição.
Continuando nossa expedição, a programação do dia 11, considerado o dia tão esperado, iniciou-se de madrugada, com o Igor optando em ficar no acampamento Salto, eu acordei as 2:30 horas da madrugada, numa noite muito fria, partindo em direção em cume, durante cerca de uma hora e meia não vi nenhum outro montanhista a caminho do cume, as 3:30 horas olhei para traz em direção ao acampamento Salto, e percebi que outras luzes vinham no mesmo caminho, eram outros montanhistas que também iriam fazer o ataque ao cume, o que me fez sentir um certo alivio, pois não estaria mais sozinho na escuridão. Caminhando por cerca de mais meia hora cheguei ao Acampamento La Hoyada (4.600m), este algumas vezes utilizado por montanhistas, porém pelo fato de ventar bastante no local, não foi utilizado pela nossa expedição, pois bem, após passar por este acampamento me deparei com uma geleira montanha acima, na qual eu não conseguia visualizar a trilha rumo ao cume, como alternativa, optei por consultar meu mapa off-line através do app maps.me, no qual consegui me localizar.
Próximo das 7:00 da manhã, eu estava chegando próximo ao colo entre o Cerro Plata e o Cerro Vallecitos , rajadas de vento fortes fizeram com que eu me abrigasse próximo a algumas pedras e esperei aproximadamente 15 minutos até clarear o dia e os ventos serem mais fracos. Chegando ao colo, optei por seguir a esquerda em direção ao Cerro Plata (5.943m), porém, neste ponto pode-se optar por seguir a direita em direção ao Cerro Vallecitos (5.420m). A partir deste ponto comecei a sentir muito desgaste físico e dificuldades na respiração, tentava diminuir esses efeitos com paradas prolongadas e ingerindo um pouco de açúcar na busca por mais energia, comecei a sentir algumas dores ao respirar, podendo ser algum sintoma do mal de altitude ou de simplesmente respirar o ar frio da temperatura negativa do ambiente em que eu me encontrava naquele momento, tonturas também começaram a estar presentes nos sintomas, foi quando ao atingir os 5.516 metros de altitude, optei por encerrar minha expedição neste ponto, registrando o momento através de fotografia. Voltando ao Acampamento Salto, descansei por uma hora, organizei o equipamento e realizei a descida até o refúgio San Bernardo, chegando as 16:30 horas deste dia 11, encontrando o Talivan e o Igor que já estavam no aguardo.
Os dias 12, 13 e 14 de Janeiro foram os dias destinados a nossa viagem de volta para o Brasil, fazendo a parada em Lagoa Bonita do Sul e finalizando nossa expedição em Flores da Cunha.
Da Expedição ao Cerro Plata, guardamos os momentos impares que passamos na montanha, o aprendizado que a mesma nos proporcionou, a certeza de que pessoas comuns como nós também podem realizar feitos extraordinários.
Agradecimento especial à ACM – Associação Caxiense de Montanhismo, apoiadora desta expedição.
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Iuri Cerutti Feldmann
Show Andrey, pretendo subir em Dezembro, sabe me dizer qual temperatura mínima que pegaram lá? Algumas dicas sobre equipamento etc? Me retorna aí, Abraço!