Pico da Bandeira, Parque Nacional do Caparaó
Chegamos ao Parque de manhã num dia de céu de brigadeiro, porém, no inverno de julho. Após deixar o carro no estacionamento, iniciamos a subida com os equipamentos. O sol era intenso e o terreno de média dificuldade. Subimos com roupas leves e fomos apreciando as deslumbrantes paisagens que ocupam 100% do caminho. Cachoeiras, totens, animais silvestres, montanhas, árvores, flores, o sol, as nuvens correndo, a tarde caindo e o frio chegando!
Conquistamos o acampamento Terreirão pouco antes do fim da tarde e logo tentamos tomar um banho no banheiro (muito sujo) que lá se encontra, antes do crepúsculo, no entanto, sem sucesso. A água do chuveiro desafiava a física e não congelara, mesmo estando abaixo de zero grau! Pelo menos essa foi a sensação que tivemos quando ousamos experimentar a temperatura da água.
Suados da subida, rapidamente montamos barraca e, com os outros poucos e preparados companheiros de acampamentos, apreciamos o pôr do sol que aqui não se adjetiva pois, falar em beleza, espetáculo e incredibilidade, seria um pleonasmo.
A noite mal caiu e já observávamos no céu as primeiras e muitas estrelas que ainda veríamos com o passar das horas. Enquanto isso, nosso tanque de combustível precisava ser abastecido, pois o desgaste da subida e o frio, que não parava de aumentar, pediam comida.
Enfim, a plenitude da escuridão chegara e, com lanternas nas mãos, os acampamentistas socializavam e começavam a fotografar ??o maior espetáculo da terra??, com as escusas ao carnaval, que curiosamente se encontra fora da terra: O espaço!
É impossível descrever com a exata adequação o número e a beleza das estrelas (inclusive as muitas cadentes), dos planetas (que os mais aficionados como eu conseguiram identificar), e dos muitos satélites que circundam a órbita da terra, numa velocidade que varia de 11.000 km/h (geoestacionária) à 27.000km/h (circular equatorial), sumindo no horizonte e aparecendo no lado oposto em minutos! Essa certamente foi uma inesquecível experiência, registrada em muitas fotos.
Mas dessa vez, a visão espetacular do céu limpo e estrelado acabou por ser a bonança antes da tempestade!
O frio era implacável e às 22h já estávamos abaixo dos 10 graus celsius.
Tentamos dormir, sem sucesso, com: tênis, duas meias (em cada pé), duas calças (sendo uma térmica), 2 camisas (sendo uma térmica), casaco, cachecol, duas luvas (em cada mão), balaclava térmica e capuz (ou seja, apenas os olhos à mostra). Tudo isso dentro de um saco de dormir para temperaturas negativas sobre uma manta térmica, dentro da barraca. Nada adiantou. Na verdade, adiantou, não estamos mortos, mas não foi fácil.
Às 2h da madrugada do dia seguinte, já não suportando mais o frio, esse mesmo nos impulsionara a levantar e iniciar a subida.
A barraca estava coberta por uma fina camada de gelo, assim como toda a vegetação em volta.
Acordamos todos do acampamento e partimos. Não digo que a subida foi infernal pois a sensação térmica era de -8 graus. Bem mais inclinada que a caminhada até o acampamento, muito mais fria, com alguns animais silvestres que, vez ou outra nos dava um susto, uma absoluta escuridão que pouco se importava com os insignificantes fachos de luz de nossas lanternas de LED e aquele mesmo céu estrelado que nos deslumbrara horas antes.
O frio penetrava as muitas roupas como se fossem feitas de seda. Eu particularmente disse que iria voltar umas 100 vezes. Mas... por volta das três da madrugada avistamos a silhueta do cume, iluminado pela lua crescente. Reunimos forças e intensificamos o passo. Finalmente, lá pelas 4 e meia chegamos subitamente ao Cristo que fica a poucos passos do topo. Como diria a Paula Fernandes, foi um ??turbilhão de sensações?? dentro da gente! Ainda estava escuro, mas já podíamos sentir a altura em que estávamos e a vista que teríamos ao alvorecer, fora a sensação de alívio em não ter mais que subir altos degraus de uma infinita escada de terra e pedras.
Os outros companheiros de acampamento foram chegando e (congelados) esperamos o sol aparecer em meio ao alaranjado que o anunciava no horizonte.
Ali estava a cruz, no topo, onde tiramos várias fotos e enfim o sol surgiu em meio às nuvens que cobriam todo o espaço ao redor da montanha em que estávamos. Raiou mais cedo pra nós do que para o resto do Brasil (já que estávamos há quase 3.000 metros de altitude) e outro espetáculo aconteceu, bem diferente, mas exatamente igual à noite anterior onde luzes do espaço clarearam a terra. Nosso cérebro esperava o calor vindo daquela luz, mas o corpo não o sentia. Demorou uns 30 minutos até que a temperatura finalmente começasse a subir, meio grau que fosse. Foram momentos de contemplação, reflexão e a certeza de nossa insignificância perante o universo, e, é claro, muitas fotos!
Deixe seu comentário
Regina
Advogaaventureiro legal seu relato, tiveram muita sorte em pegar um tempo bom, estou aguardando o tempo melhorar para subir. Obrigado!!!
Lorena
Advogaaventureiro ficou muito legal o seu relato sobre a trilha do Pico da Bandeira! Já cheguei a ir no Vale Encantado porém não fiz essa trilha do Pico mas sou doida para fazer mesmo passando por frio, dificuldades e cansaço, percebi que vale a pena só pelas fotos e pelo seu relato! Visual muito lindo! =)
advogaventureiro
Oi Lorena! O ideal é sempre ir com os equipamentos necessários para não passar sufoco, mas quando você vai sem eles e passa sufoco, a aventura é ainda melhor! Foi o nosso caso!