Petra, Um lado B
Um dos destinos mais desejados por mim, Petra é realmente tudo aquilo, ou mais, que a gente espera. Tenho fascínio por todas as culturas, e Petra é uma cultura particular, dentro de outra, a Jordânia :-)
Bem, ouve-se muito sobre Petra, mas raramente vimos alguém realmente tirar todo o proveito do lugar. Não que eu o tenha feito, mas certamente me esforcei muito para isso :-)
Pra iniciar bem, começando com uma esplêndida porta de entrada: Petra by night!
Normalmente, quem já conheceu Petra durante o dia, vai achar essa atração sofrível. Quem não conheceu ainda, vai ficar louco de vontade de que chegue logo o dia seguinte, para conhecer de verdade! Então, se quiser sentir o máximo que Petra tem para oferecer, comece por aqui.
É um aperitivo para o que vem depois... Ouvir música local, num ambiente à luz de velas, uma caminhada por entre as lanternas. Para quem gosta de fotos noturnas, é o momento perfeito para tirar aquela longa exposição do Tesouro (não se esqueça do tripé!). Só quem foi sabe a curiosidade que desperta e a ansiedade para que chegue logo a manhã, para ver tudo aquilo à luz do dia.
Só tenha o capricho de chegar em Petra numa segunda, quarta ou quinta, preferencialmente à tarde, para que possa conhecer iniciando por Petra by Night - isso vai enriquecer muito sua viagem!
Ah.. por favor... não leve lanterna, head lamp, farolete, não acenda a lanterna do celular... a luz das velas é suficiente e deixar mais claro, quebra o clima e a experiência das outras pessoas... e, de novo... vá ANTES de conhecer Petra durante o dia!
Procurei ficar em um hotel próximo, em Wadi Musa, para não perder tempo nem em trânsito, nem tentando estacionar carro. A portaria abre a partir das 06h30, mas se chegar um pouco depois das 6h, já te liberam a entrada (desde que você tenha jeitinho para pedir :-) ). Como o hotel ficava ao lado da portaria (modo de falar, viu? De lá de dentro até a portaria, tem uma caminhada de uns 2,5 km), eu voltava às 08h para o café da manhã super reforçado, para aguentar o calor, as caminhadas e as montanhas. Chegando bem cedo, você pega o tempo agradável, o sol revelando os lugares bem lentamente, e suas fotos vão ficar lindas, sem o grande tumulto que acontece quando chegam as "escursões" a partir das 08:30 :-)
Lá dentro, as atrações óbvias: Siq, o Tesouro, as tumbas reais, o local de sacrifício, o Monastério (não deixe de ir.. é só uma subida de 20 minutos que pode ser o mais compensador da viagem)... não vou falar nada disso... você encontra isso no google :-)
Vou contar uma experiência pessoal: a visita ao Monte Hor - Santuário de Aarão, irmão de Moisés
De acordo com a tradição, Aarão está sepultado lá, onde foi construída uma mesquita - "O sacerdote Aarão, o sacerdote, subiu por ordem do Senhor ao monte Hor e ali morreu, no quadragésimo ano do êxodo dos israelitas do Egito, no primeiro dia do quinto mês." - Num 33:38
No segundo dia em Petra, quando fui conhecer o local alto do sacrifício, um beduíno que estava lá me apontou para uma montanha, a 7 Km de distância, em visada direta. Me contou sobre a história e sua importância para a cultura local e, (por que não?) universal.
Entretanto, havia um problema: o local é fechado, com vigilância local e acessível somente pelos habitantes locais. (Por que será que isso atiça ainda mais a curiosidade, hein?). Só faltava ele dizer que é um local extremamente secreto e perigoso! HAHAHAHA
Aí vem a pergunta: quanto??? e a reposta, os guias do parque têm acesso e cobram 120 dinares (cerca de U$ 180 na época), mas como eu sou um cara legal :-) cobro 50 de você. Combinei com ele para nos encontrarmos no dia seguinte, pela manhã.
No dia seguinte, estive no local e hora combinados, mas o rapaz não estava. Apesar da prevenção, de que só é acessível aos locais, decidi por ir sozinho, eu e meu companheiro GPS...
Estava no caminho, quando passava em frente às cavernas que servem de habitação aos beduinos que vivem em Petra, quando fui abordado por uma família, obviamente querendo saber para onde ia o "turista" sozinho. Após saber das minhas intenções, fui novamente informado que não se pode visitar o Monte Hor por conta própria, que o local é fechado e guardado, que só eles têm a chave. De novo, a pergunta: quanto???? Desta vez, ficou em 20 dinares, cerca de 30 dólares.
Começamos a caminhada: eu, uma senhora de uns 45 anos (que parecia ter 60), três de seus filhos e seu jumentinho :-)
Apesar da aparência desgastada pelo deserto e pelo sol, a senhora caminhava como uma montanhista no seu auge físico, quase me deixando para trás :-), com a diferença de que, diferente de mim, não calçava botas e calças de montanha, e sim sandálias e túnica.
Antes, porém, de ir para o Monte, teríamos que passar em seu acampamento para pegar a chave do portão. No caminho, começamos a falar de nossas vidas... de como era seu dia a dia, de sua família, de como tinha aprendido o inglês, apesar de nunca ter tido aulas ou viver fora de lá...
Passamos por alguns locais que serviam de morada para eles anteriormente, mas hoje seriam somente para depósito. Um, em particular, tinha vários sacos de uma erva, que ela guardava num lenço. Depois fui informado do que se tratava.. nas palavras dela, "marijuana árabe".. Perguntei se era legal, se podiam usar isso fora dali... disse que não havia problema. Quando perguntei se podia jogar a porção que havia colocado em minha mão, arregalou bem os olhos e disse: "Não.. me dá aqui" e colocou em seu lencinho, junto com as outras porções... bem.. cada povo com seus hábitos, né?
Antes de chegarmos no acampamento, combinou comigo que iríamos fazer uma brincadeira com sua irmã: ela iria dizer que eu a tinha visto no dia anterior, e minha parte era só confirmar com a cabeça (brincadeira estranha e sem muita graça.. hehehe).. Após ela falar com a irmã, em árabe, obviamente, a irmã deu um sorriso e ficou encabulada (??) e eu fui convidado a tomar um chá com eles.
No acampamento, a mãe deles, minha guia e sua irmã, e seus filhos (até onde havia visto, uns 5, incluindo um bebê de 1 ano, "escondido" sob um lencol, para proteger das moscas, e uma criação de cabras.
O chá veio servido em um copo de vidro, que estava "guardado" no chão de terra batido, todo esbranquiçado por não ter sido lavado há muito tempo (a água é escassa). Me ofereceram também pão e uma gororoba que estavam comendo com as mãos, de uma panela compartilhada. Depois de muita insistência, aceitei um pedaço bem pequeno de pão, vindo de um saco, passando por mãos sujas de gororoba. O chá não era dos melhores, então tomei rapidinho - erro grosseiro! Como tomei rápido, eu provavelmente tinha gostado muito, e encheram meu copo de novo.
A matriarca gostou de mim. Me ofereceu algumas moedas do reino Nabateu, que, educadamente, recusei.
Alguns pontos interessantes do acampamento:
- As moscas eram onipresentes: caminhavam tranquilamente sobre os utensíleos domésticos, panelas, comida, braços, rostos e dentes;
- A geladeira era feita do estômago extraído de uma cabra;
- Onde estava era como uma "sala de estar". À noite, moviam-se para uma tenda que ficava logo atrás.
Bem, depois dos protocolos, pegamos a chave e recomeçamos a subida, e a irmã da minha guia veio junto, para "fazer um chá" enquanto eu conhecia o Santuário de Aarão. Ela já não tinha tanta destreza quanto sua irmã, então, logo ficou para trás. Depois de uma caminhada, fizemos parada para descanso. Mas eu estava ansioso para chegar e não quis parar por muito tempo, apesar do protesto da guia.
Chegando no topo da montanha, que é guardado por dois soldados do exército, fomos conhecer. Além da mesquita, o local fornece água para os habitantes locais, através de uma cisterna sob a contrução. enquanto ela apanhava sua preciosa água, entrei na mesquita (não sei porque ela não quis entrar comigo), fiz minhas fotos e ao descer, fui tomar o tal chá que a irmã havia feito. Me pediram para pegar uns copinhos de plástico que estava há algum tempo na trilha. Nesses compos, velhos, sujos, mas inteiros, :-) serviram meu chá. Fiquei aguardando se servirem também (a guia, os soldados e a irmã da guia), mas disseram que já haviam tomado. Achei um pouco deselegante, mas ok... Só iríamos tomar eu e a irmã da guia.
Enquanto tomava, a guia me contava sobre o local, sobre os locais que não são abertos à visitação. Me disse algo que não me agradou... quando eu voltasse à Petra, iria me levar a conhecer tais locais e eu iria desposar sua irmã!! Então, me dei conta de que estava participando de uma "cerimônia" de noivado.... :-(
Depois disso, tomei o tal chá, não sei de quê, rapidinho e disse que já estava indo. Minha descida foi extremamente rápida, e ela me perguntava a razão de eu estar com tanta pressa. Dizia que queria visitar o monastério antes do pôr do sol. Numa bifurcação, paguei-a e me despedi. Me despedi da irmã à distância, esperando nunca mais encontrá-la.. hehehehe
Ainda na volta, precisei tentar convencer um dos filhos da guia a não usar seu burrinho para descer (por 20 dinares). Foi quase meia hora de negociação até que ele resolvesse ir embora...
Viajar tem disso... perrengues, situações embaraçosas e desagradáveis.. mas normalmente, a maioria delas acaba em risos mais tarde.. :-)
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