Travessia Serra Fina

    A Travessia da Serra Fina se localiza integralmente na Área de Proteção Ambiental da Serra da Mantiqueira, e percorre a divisa entre São Paulo e Minas. Está no seu trajeto a Pedra da Mina, 4º ponto mais alto do Brasil e o Pico 3 Estados, ponto de confluência das divisas de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. O mapa acima indica a localização aproximada da travessia.

10/11/05 - Dia anterior à expedição - Doação de sangue - 450 ml a menos do meu precisoso fluido. Será que fará falta???

11/11/05 - O início

06:50 - Saída da rodoviária de Sorocaba - O ônibus da Kaiowa, que deveria ter passado às 04:50, atrasou... Como eu cheguei muito cedo, não podia pegar dinheiro no caixa eletrônico e depois eu acabei esquecendo, mesmo depois da parada no km53 da Castelo, para troca de motorista. O ônibus parou na Castelo, em São José, Taubaté e em um posto uns 20km antes da divisa SP/RJ.

13:50 - Descida na Dutra. Comecei a subida pela BR354. Andei uns 8km, até que consegui um caminhão, carregado de pneus, me desse carona até a entrada do Sítio do Pierre, ponto de entrada da trilha. A estrada é bastante sinuosa, e a caçamba balançava muito. O único espaço que havia na caçamba não me deixava sentar direito, e os pneus que me serviam de apoio ficavam rolando nas curvas. Era um passeio com muito mais emoção que nas dunas em Cumbuco, e de graça !!!

15:00 - Entrada no ponto de subida. Tomada de água numa caixa d?água antes da entrada do sítio, onde havia placa dizendo ser propriedade particular. O dono, Sebastião, permitiu a passagem e falou para tomar cuidado com ataque de onça, por eu estar só. Continuei a subida, passando por várias casas e tomei a trilha. Minha intenção era chegar até o Pico 3 Estados, mas como já era muito tarde, refiz o plano.

17:50 - Chegada na área de acampamento. Cheguei em uma área onde cabia uma só barraca, mas era bem arrumado. O chão estava forrado e seco. Dormi antes do sol se por.


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12/11/05 - Segundo dia

05:50 - Alvorada. A noite foi bem fria, mas eu estava bem agasalhado, exceto pelas pernas e pés, e eu precisei ficar cruzando as pernas a noite toda para não resfriar demais. Apesar disso, dormi muito bem, umas 11 horas.

06:50 - Início de caminhada. O tempo estava fechado, não permitindo ver além de 50m em alguns pontos. Primeiro erro grave: a água que eu tinha não era suficiente para passar bem o dia, então eu teria que racionar para poder chegar até o próximo ponto, que é na base da Pedra da Mina.

10:00 - Chegada no pico 3 estados - tomei o penúltimo copo dágua.

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12:20 - Fim de água após o cupim do boi. Eu ainda teria que subir e descer 4 picos pelo gps, mas na realidade, eram mais 5 e uma série de pequenas subidas. Cerca de 3km em linha direta, sem contar subidas, descidas e desvios.

15:16 - Chegada na base da Pedra da Mina. Tomei muita água, abasteci o cantil. Logo após, começou uma forte chuva de granizo. A parca aguentou bem, porém, quase ocorre um acidente: eu tirei a máquina do bolso lateral da calça e coloquei no bolso interno da parca, sem fecho. Não sei se eu coloquei errado, ou ela caiu quando eu abaixei para colocar a mochila, mas depois eu fui ver e não estava no bolso, tinha caído para baixo da linha da alça abdominal da mochila. Por sorte, o elástico da parca segurou e eu não a perdi.


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Formaram vários tapetes de granizo em vários pontos.

18:00 - Chegada na Pedra da Mina. Preenchi o livro de cume, montei acampamento numa área cercada por pedras, que estava coberta de granizo. Cortei algumas folhas de capim para forrar melhor o chão e não passar muita umidade para a barraca. Minha mão, que já estava bastante machucada por causa dos bambús no caminho, cortou mais ainda ao mexer nos arbustos. Montei a barraca, deixei a mochila para fora, coberta com capa, pois não havia muito espaço livre dentro da barraca.


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13/11/05 - Terceiro dia

05:50 - Alvorada. A noite tinha sido bem fria, mais que da outra, pois eu estava bem menos abrigado do vento. Eu ainda estava meio molhado e não podia me encolher, porque estava me dando cãimbras. Me levantei, coloquei as botas, com as meias molhadas e geladas. Após um tempo, percebi que meus pés estavam congelando então precisei tirar as botas e meias, deixar as botas no sol para aquecer um pouco, colocar as meias nas fossas poplíteas, ajoelhei e enrolei meus pés no saco de dormir para voltar a aquecer. Fiquei nessa posição cerca de 20 minutos. Voltei a vestir as botas, tirei umas fotos, desarmei o acampamento e continuei a travessia.


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07:20 - Início de caminhada. Segundo (o mesmo anterior) erro grave: coletei logo abaixo mais água mas, de novo, insuficiente, pois pensei que esta fase final seria mais fácil e rápida. Estava esperando chegar no final lá pelas 14:00, mas depois vi que esse era o trecho mais difícil de todos e parecia ser o mais longo também.

13:50 - Fim da água no alto do Capim Amarelo. Para mim, esse foi o cume mais difícil da travessia. apesar dele não ser o mais alto, tem os dois lados íngremes e muito fechados por bambús. Houve pontos em que eu tive que rastejar para poder passar e ainda assim eu me enrosquei. Como no dia anterior, eu estava com muita dor nos dedos do pé, pois estava com as unhas compridas (imbecilidade) e estavam pegando na frente da bota. Estava também com alguns probleminhas de coordenação motora, por causa da abstinência de água.

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16:40 - Chegada no ponto de água, numa linda cachoeira. Em tese, era o final da travessia, mas minha comemoração maior foi por poder matar a sede. Tomei muita água mas não abasteci o cantil, pois não havia chegado, segundo o ponto que eu tinha no gps, no estacionamento. Como eu estava muito cansado, quis levar menos peso possível até lá. Aparentemente, havia uma bifurcação lá atrás, que conduzia ao ponto "oficial" de água e logo após, ao estacionamento. Vi que havia um atalho bem direto, numa subida, e com uma marca amarela. Estava estranhando o fato de não encontrar nenhuma estrutura, como uma portaria, por exemplo. Começei a subida e após uns 7 minutos de muita subida, vi no gps que parecia dar em lugar nenhum. Resolvi voltar, tomar mais água e retornar pelo caminho que eu havia vindo, e que sabia daquela bifurcação. Refiz o trajeto e continuei pela bifurcação. Da mesma forma, ela não dava em nada e, ainda encontrei a saída daquele atalho que eu tinha voltado. Retornei mais uma vez ao ponto de água, enchi o cantil e só então vi que eu precisava atravessar o rio. Perdi uns 50 minutos nisso.

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20:20 - Chegada na estrada. Fiquei aguardando o ônibus, pensando que iria esperar cerca de meia hora, mas não passava nada, nem vindo, nem indo para Cruzeiro. Fiquei até 22:45, quando resolvi ligar para casa para dizer onde estava. Nesse tempo, fiquei planejando como iria fazer para dormir, pois não havia muita oferta de lugares. Não havia pensão, hotel, camping, nada próximo, e eu não tinha mais que $ 14 na carteira, pois não tinha pego dinheiro no início da viagem. Ao final ficaram 2 opções: dormir no acostamento da estrada, numa área entre alguns arbustos, ou sob uma marquise de um bar, que dava a vantagem de me abrigar numa eventual chuva de madrugada. Escolhi o bar. Quando atravessei a estrada para me ajeitar, o ônibus veio. Dei sinal para ele parar, mas não parou ($%@##X&¶æ‡!!). Fui dormir. À noite, sonhei que o dono do bar ficou puto, pegou minha mochila e jogou do outro lado da estrada - parecia muito real...

 

14/11 - Para casa.

05:50 - Alvorada. Minha escolha tinha sido boa, pois de madrugada choveu. Como eu só tinha tirado o saco de dormir da mochila, foi rápido para eu me levantar e me arrumar. Atravessei a estrada e perguntei a um homem que estava aguardando se iria para Cruzeiro também: Disse que sim e que o ônibus estava prestes a chegar. Não demorou 2 minutos para ele aparecer. Como a passagem era barata ($2,80), fui sem problema até lá, mas ao chegar, havia um ônibus indo direto para São Paulo, que estava quase saindo, e um que sairia às 7:00 para Guaratinguetá. Não tinha dinheiro para nenhum dos dois. Tive que pegar um táxi até o centro, retirar dinheiro no caixa eletrônico e voltar, para pegar para Guará, pois o de São Paulo já tinha saído. De lá, fui para São Paulo. A rodoviária de Guaratinguetá, apesar de parecer arejada, foi a mais suja que eu vi da região. Mesmo a de Aparecida, que concentra gente de todo o Brasil, e parece ser mais velha, não era tão porca como a de lá. Fui tomar uma vitamina numa lanchonete de lá de dentro, que vinha congelada, ruim (e olha que fazer vitamina ruim é difícil) e atendimento pior que boteco de fim de mundo. O dono servia pão de queijo com toda higiene, num guardanapinho, mas logo depois, repunha a mercadoria com as mãos, após fazer o troco da cliente. (Isso pode até ser comum, mas ele poderia ter dado uma disfarçada). No meio do salão, 3 cachorros passeavam à vontade, próximo às mesas onde alguns comiam seu lanche e ao lado de um monte de bosta (desculpe, fezes) de cachorro. Ninguém parecia se incomodar com isso, nem mesmo o faxineiro, que varria as escadas sem muita vontade.


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Bem, tomei o ônibus para São Paulo, e de lá para Sorocaba, chegando por volta de 13:30. Almocei um filé que parecia ser o melhor do mundo.

 

Conclusão: Essa foi a travessia mais longa que eu já tinha feito até aquele momento. A navegação é muito complicada, sem apoio do GPS. O comprimento da trilha é de 31,868 Km, sem contar os trechos andados em estrada (uns 20Km antes, 9 deles à pé, e 10 Km depois). Há escassez de água e as passagens por entre os bambús triplica o esforço, e a velocidade média nesses trechos pode cair a 0.4 Km/h. Por mais extenso que este relato possa parecer (na verdade, está) deixei de falar muito sobre a dificuldade de toda a trilha, mesmo porque quem lê nunca vai ter idéia do que ela é, sem passar por isso. Minha barraca está suja de sangue da minha mão, de tanto tentar me livrar dos bambuzinhos. Tempo gasto na trilha: 24h49min. Pessoas encontradas no trajeto: 0 (zero). Fui um tanto infeliz, pois o tempo estava fechado, e não deu para curtir o visual. Quem sabe na próxima...

 Meu sangue parece não ter faltado tanto, e houve momentos que eu até trocaria mais um pouco dele por água pura, suculenta e saborosa. (brincadeirinha).


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Serra Fina, Minas Gerais
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Renato Gomes
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